Apenas Ela
Anjo meu, meu único amor, só ódio enfeita o veneno que destila, é a dor mais profunda, meu sentimento mais perfeito.
Você sacudiu meu mundo com tuas palavras, não eram nem sequer sobre mim, mas meus olhos não sentiam te procurar como possessão atada no peito de deslumbre.
Afastada do normal, entre um pensamento e outro, eu guardo o suicídio dos meus dias com o corpo morrendo e aquiescendo, punho cada vez mais fraco, longe de mim mesma.
Os meus olhos amarrados, e com o gosto amargo da indiferença vou me entorpecendo e enlouquecendo aos poucos por suas palavras dispersas, nem sei se finjo ser feliz ou a felicidade que insiste em mentir nas entranhas que escurece meu brilho.
A maneira como você age comigo, perdendo a prudência, meu cristal vira pó fino levado com o vento, em tua covardia me amparastes outra vez sugando os traços confusos, inutilmente de corpo punido, arte que quebra o palco da piedade da escuridão em que estrelas morrem, adormecem pelo fio do tempo.
Anjo meu, és a naja no meu peito, me controla com o teu cálice envolvente, envenena-me a dor, confrontando parte a parte do que te nego me fechando em seu cárcere, deixando-me longe de mim mesma.
Das estrelas eu me despeço, com elas deixo morrer o que sinto, sem lápide, sem pétalas de flores, e eu esqueço sem nenhum lamento como uma lança que atravessa o meu corpo, sepultarei meu coração. e as flores ...murcharão, sem cor, sem cheiro, amordaçadas.
Não existe encanto nem doce, apenas lama de lágrimas com a dor dos soluços de meu desencanto, sem tão pouco sentir ódio, intumescendo, de torpor já cálido, tão precioso entre a fúria de meus dedos que procuram os acordes certos, a dor que a ironia de tua beleza que engana meus olhos, anjo falso que elabora meu desvanecimento e me sustenta a pisar no vento, entre as horas que se perdem e outro verso pavoroso do dissabor da saliva ácida entoada entre línguas e dentes.
Anjo meu, seja sincero, me condenas por assim ser, mas nem o fim da vida me faz tanto medo quanto um toque apenas das tuas mãos gélidas, e por um minuto a força da verdade, como sopro de alívio, vejo mais uma vez teus vestígios, eu agora não bebo do veneno das borboletas brilhantes, se eu jamais pretendi sequer abrir a porta.