Fado Alado
Vou de Lisboa a São Bento
Trago o teu mundo por dentro
No lenço que tu me deste
Vou do Algarve ao Nordeste
Trago o teu beijo bordado
Sou um comboio de fado
Levo um amor encantado
Sou um comboio de gente
Sou o chão do Alentejo
De ferro é o meu beijo
Tão quente como a liberdade
E se não trago saudade
É porque vives deitado
Num amor que não está parado
Sou um comboio de fado
Sou um comboio de gente
Não há amor com mais tamanho
Que este amor por ti eu tenho
Voo de pássaro redondo
Que não aporta no beiral
Não há amor que mais me leve
Que aquele em que se escreve
Ai, lume brando, paz e fogo
E a luz final
Desço do Porto ao Rossio
Levo o abraço do rio
Douro, amante do Tejo
Nos ecos dum realejo
Chora minha guitarra
Trazes-me a paz da cigarra
Num desencontro encontrado
Sou um comboio de fado
Se for morrer a Coimbra
Traz-me da luz a penumbra
Do amor que nunca se fez
Corre-me o sangue de Inês
Mostra-me um sonho acordado
Somos um povo alado
Um povo que vive no fado
A alma de ser diferente