pegadas
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
Caminhando pelas ruas de
uma cidade americana
Eu percebo que não quero migalhas
Nem tampouco medalhas
Isso tudo é ilusão
Vendo as mesmas mentiras
num país desenvolvido
Armado até os dentes para a guerra
Me dói o coração
Perceber a situação em que estamos
envolvidos sem perspectivas
De qualquer solução
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
É quando eu penso na razão que nos leva a acreditar
Que estamos mudando um país
Uma voz vem lá de dentro e me diz
Que o sistema no fundo é o mesmo
e em nós se perpetua
E não cabe mais aqui e agora
essa máquina que nos fez aprendiz
De um poder vagabundo
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
E não podemos mais
desperdiçar energia
Com uma vazia retórica estética
amordaçando o grito de um coração
Que luta contra toda falta de perspectiva
e informação do pensamento
Abatido pelos mísseis imperialistas
dentro de sua própria nação
com toda falta de cultura, sensibilidade,
amor, respeito e educação
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
E fico puto ao constatar que
desperdiçamos tempo parados em segredo
Bebendo no bar que nos feriu
a memória e nos tirou a força humana
O único sentido de revolução do ser
O objetivo intrínseco de um homem
novo de qualquer geração
Para toda e qualquer falta de possibilidade
Tem que haver reação
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
E agora eu sei que o que nos ensinou a esperar inutilmente
Foi a burocracia, o misticismo e a religião
Esperar por deus, por alimento e pão
Esperar que as coisas mudem num próximo momento
E eu atento contra a culpa e o sofrimento
judaico-cristão
Contra toda dúvida e medo
Com muita insatisfação
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
Caminhando pelas ruas de uma cidade americana
Eu lembro o poeta Duclós que disse: ?estar a salvo
não é se salvar"
E eu complementaria, hoje em dia
se sentir salvo é esperar pela salvação
E nada nos salvará
Um dia, ainda, nos aniquilarão
Parodiando Russians do Sting
eu também diria, então:
Espero que os brasileiros amem seus filhos,
de coração!
Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos.