Comum No Seu Tempo
Já perdi a identidade
Em alguns cantos da cidade
Umas vezes, fui furtado
Em passos mal iluminados
Ou tenha só me descuidado
Algumas vezes isto é verdade
Foi por minha má-vontade
Mas que importa? já está acabado
Ficou um pouco em cada canto
Feito pedaços de um manto
Que já foram se rasgando
Desfazendo, desmanchando
Num açoite desumano
De um caminho tão profano
Que meu ser, em desencanto
Foi despido de seu pranto
Veja, não posso mais ser quem eu sou
Seja em qualquer lugar que eu vou
Tive que achar outra carteira
Uma nova cara verdadeira
Que de algo me valesse
Em que eu me reconhecesse
Para que algo acontecesse
E me trouxesse interesse
Numa angústia tão certeira
E o abismo? Sempre à beira
Caído em outras desventuras
Nas mesmas ruas escuras
Hoje, qual será meu gosto?
Quem me saberá o rosto?
Quem ocupa este tal posto
De sentir o meu desgosto?
E que possa, por ventura
Sentir nele minha amargura.