Gegê, Cadê Getúlio?
Quando criança eu morei no topo da ladeira do inferno
As labaredas do verão fustigavão os corpos da molecada
As calçadas eram todas formadas da mais pura lama
Mas pra Gegê, era apenas a linha de chegada
Ela era desdentada como as bruxas das estórias
Noventa anos apoiados em grandes sandálias de couro
Seus braços giravam como duas rodas gigantes
Refugava babando, como se fosse um touro
Gegê surgiu brandindo o seu cabo de vassoura
Parecia defender sua honra numa luta
Então gritei Gegê, Gegê, cadê Getúlio?
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Hoje não sei se é segunda, quarta-feira ou fevereiro
À um vento furioso, rugindo no centro de tudo
Fui afundando nas areias das noites sem estrelas
Por fora sorrisos
Por dentro cego, surdo e mudo
Resolvi me internar o ano inteiro num calabouço
Afiando as espadas da coleção do meu pai
Olhos de serpente surgiram Rasgando a sua face
Então lhe golpeie, como se fosse um samurai
Gegê surgiu brandindo o seu cabo de vassoura
Parecia defender sua honra numa luta
Então gritei, Gegê, Gegê, cadê Getúlio?
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Nossos corpos se afinaram como se fosse um ensaio
Seus lábios finalmente se abriram
Para os meus
Meus óculos testemunhas do que estava acontecendo
Meu coração disparou e eu quase deixei de ser ateu
Mas você perdeu esse coração lá no armarinho
Ele foi vendido, trocado e empenhado outra vez
As promessas se desintegraram todas ao mesmo tempo
As memórias dos seus mamilos perderam a nitidez
Gegê surgiu brandindo o seu cabo de vassoura
Parecia defender sua honra numa luta
Então gritei Gegê, Gegê, cadê Getúlio?
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Uma mente temerosa vai dizer que é pura insanidade
Nunca vai fazer nada genuinamente seu
A cabeça submissa, um comodismo desgraçado
E você diz que a voz do povo é a voz de Deus
Mas democracia é apenas a forma de tirania
Da maioria que sofre da falta de percepção
Sim, eu sempre tomo o caminho contrário
Sempre ao contrário e não importa a direção
Gegê surgiu brandindo o seu cabo de vassoura
Parecia defender sua honra numa luta
Então gritei Gegê, Gegê, cadê Getúlio?
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Haa
Então gritei Gegê, Gegê, cadê Getúlio?
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta
Tá embaixo das pernas de sua mãe, seu filho da puta