De São Borja ao Batoví
Eu fui piazito em muita tosa de manada
Juntando cerda e alcançando marca quente
Eu fui piazito num petiço enforquilado
Pelo banhado, retoçando nas enchentes
Em me criei laçando boi e meia espalda
Campeando lida nas boconas me perdi
Buscando a volta ao tranco e ao trote calmo
Conheço a palmo do São Borja ao Batovi
Andei cruzando atalhos e corredores
Pra embalar o corpo numa bailanta encruada
Boleava a perna donde tivesse gaiteiro
E algum candeeiro que incendiasse a madrugada
Sou da fronteira, sou taura, sou peão de estância
E algum feitiço e deixou assim teatino
Peguei costume de gostar de china e canha
E tirar manha e balda de algum malino
Em carreiradas amadrinhei muita china
Em camperiadas apartei brigas de touro
De peito aberto repontei zebu da grota
Empurrei tropas nos encontros do meu mouro
Por ser guerreiro sempre fui madrinhador
Arrodiei muito fogo grande em noite fria
Mateando só esperava o arrebol
Pra ver o sol repontá as barras do dia
Queimei o lombo em sol quente de verão
Branquiei a crina nas cara-voltas das geadas
Enredei pêlos de pingo nas maritacas
Trompando vacas em banhos e paleteadas
De vez em quando meu coração se adelgaça
E as minhas ânsias matrereiam no meu peito
Talvez por isso eu ande cruzando estradas
Porque me agrada ter nascido deste jeito