Bira - A Lenda De Irajá

Claudio Henrique

O Bira tá pê da vida
'rumou uma intriga
Indo ver Margarida
Sua mulher antiga
Logo hoje que a briga
Seria resolvida


Lhe deram um sacode
Na porta do samba
Ao som de um pagode
Ali ninguém acode
Dois homens em um Dodge
Mas com Bira ninguém pode


No boteco da esquina
Ligou pra menina
Disse: "Eu não vou mais
Depois a gente sai
Sou um cara de paz
Mas dessa vou correr atrás"


E Bira foi no barraco
Saiu armado, disposto a tudo
Sentindo-se um pouco fraco
Tomou traçado com ovo e tudo
Chamou os cara da rua
e numa perua foram rodar
a briga só era sua
mas carne crua tem que queimar
na cabeça sua razão
é que nossa polícia nada reprime
e Bira pensou como ela:
"bandido volta ao lugar do crime"
Na porta do tal pagode
um segurança tentou o barrar
e Bira disse: "Tô armado
e quero ver quem vem aqui tirar"


Eô, eô, eô
Não é que os caras tavam lá
Bis
A dupla que ganhou, ganhou
Bira lá em Irajá



Bira deu só dois tiros
No ouvido, no umbigo
Nem deu pra ouvir gemido
De nenhum dos bandidos
Que foram removidos
Dali por seus amigos


Jogaram eles no carro
'cenderam um cigarro
Cobriram eles de escarro
Bira disse: "Eu amarro!
Eu cubro eles de barro
O que eu sujo eu mesmo varro"


Fizeram a desova
Cavaram uma cova
Jogaram lá as provas
Polícia é uma ova
Dos homens nada sobra
Sob o céu de lua nova...


E como ainda era cedo
Bira ligou para Margarida
E disse: "Minha querida,
Agora podemos nos encontrar"
Mas a menina disse: "Bira,
Você não imagina o que me aconteceu
Meu primo foi lá no samba
Levou um tiro e dizem que morreu"
E Bira ficou calado
Ele não sabia o que falar
Ele tinha matado
Primo da mulher que escolheu pra casar
Um amigo disse: "Some!"
Certo que seu nome amanhã estaria
Na boca do povo lá fora,
Na Última Hora, no jornal O Dia


Eô, eô, eô
Não é que o nome tava lá
Bis Foi Bira quem matou, matou
Ele precisa se entocar


Bira foi morar longe
Lugar que se esconde
Não vai carro nem bonde
Ninguém sabe onde
Nem mesmo por qual nome
Hoje Bira responde


E a pobre Margarida
Desaparecida
Vive entristecida
Pela paixão perdida
Também vive escondida
Pois se esconde da vida


Mas na lenda de Irajá
Comentam por lá
Que um dia se encontraram
E o filho que geraram
Tem nome, rosto, corpo
Iguais aos do primo morto

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