Fado Mal Falado

Paulo Menano, Fernando Santos, Almeida Amaral, Fernando D’Ávila

Fado triste, fado negro das vielas
Estás farto de ser cantado
Gemidinho e chorado
Aqui há tempos deram-te mais uma volta
Ouviu-se a voz do artista Villaret
Falar-te em tom lencastrice silabado
Pois vou provar-te
Que inté és bonito mal falado

Mão de guitarra, calicidas
Retorcidas, contorcidas
Ai, mãos bizarras, mãos chaladas
Bem caçadas, lacrimejadas
Mãos furibundas, mãos devassas
Muito fundas, muito lassas
Aonde enfim, o fado entoa
Ó pistarim dá cá uma coroa

Eu vou contar uma história
A do Chico e a da Glória
Viviam numa trapeira
Ele tocava guitarra
E ela era cantadeira
Das que não tinham virtude
Porque nem cantava o fado
Da Senhora da Saúde

Com a massa que ganhavam
Eram felizes, sem brigas
Porquе a casa que habitavam
Era de renas intrigas
Como tinham poucos móvеis
Era muito arrumados
Cochichava em segredinhos
O mulherio lá de Alfama
Que este par de namorados
Até juntava os trapinhos
Debaixo da mesma cama

P’la janela da Glória intrava a lua
E o fado, esse
Saía a dar voltas pela rua

Mão de guitarra, calicidas
Retorcidas, contorcidas
Ai, mãos abelhudas, cabeludas
Façanhudas e tronchudas
Ai mãos de fado, mãos disto
E mãos daquilo e daqueloutro
Ai meus irmãos, que confusão
Eu já meto os pés pelas mãos

Um dia o Chico não veio, Santo Deus
Aquilo fez um transtorno à Glória
Por não vê-lo
Coitadinha, teve a dor
Mesmo aqui no cotovelo
Procurei-a como doido
E quando lhe perguntei
Que tinha ao pé da tasca
Cheiinha de asca só respondeu
É pá eu cá 'tou à rasca
Mas nisto, ao fundo da rua
Dá de ventas com o Chico
Todo feito pau dum rico
Dando o braço a uma pirua

Mas que ciúme, que drama
O resto já não tem história
A Glória foi-se à madama
E o Chico foi-se à Glória

E o ciúme chegou como lume
Queimou o seu peito a sangrar
Foi um valente sarilho
Com o Chico a malhar
Que era um nunca acabar
Foi a madama a ir de vaca
E a Glória a puxar pelos cabelos sem dó
Foi um sarilho de truz, uma coisa liró

Mas nisto, a Glória num grito
Teve um faniquito que a pode perder
Puxa a navalha canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Caramba, que cheiro a mortos
Os policias tortos vêm abusos e chão
Desarmam a chaladona
E deitam-lhe a mão

Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
São mãos que agarram
Mãos que multam
Mas que procedem sem dor
Mãos que não sentem
Quando apertam
Que estão mesmo a aleijar
Mãos que deixam nódoas negras
Mãos mimosas p'ra afagar

O que salvou este amor foi a naifa
Que emperrou na figa da corrente
Amor que já deu, levou, espetou, não matou
Tem futuro na frente
Foi lá para as duas e pico na esquadra
Ela fez as pazes com o Chico
Foi isto, vai para um mês
E no lar já há três

Porque nasceu um pimpolho
Um lindo zarolho, mais lindo que o trigo
Basta o Chico olhar p'ra ele
P'ra ver que ele é muito parecido consigo
E com o perdão depois
Felizes os dois, lá vão lado a lado
Ora aqui está o fado chunga e mal falado

Wissenswertes über das Lied Fado Mal Falado von Dulce Pontes

Wann wurde das Lied “Fado Mal Falado” von Dulce Pontes veröffentlicht?
Das Lied Fado Mal Falado wurde im Jahr 2022, auf dem Album “Perfil” veröffentlicht.
Wer hat das Lied “Fado Mal Falado” von Dulce Pontes komponiert?
Das Lied “Fado Mal Falado” von Dulce Pontes wurde von Paulo Menano, Fernando Santos, Almeida Amaral, Fernando D’Ávila komponiert.

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