Vestibular da Viola
No torneio que eu entrar
Ninguém põe a mão na taça
Não preciso de padrinho
Eu ergo o troféu na raça
No vestibular da viola
Não é qualquer um que passa
Pra esquentar o meu peito
Não preciso de cachaça
Minha voz sai com clareza
É quente por natureza
Chega até sair fumaça
Dupla pura sertaneja
No mercado está escassa
Não canta mais o sertão
Fala língua de outra raça
Francamente eu me envergonho
De certas letras na praça
Fala mais de mil besteiras
E a juventude acha graça
Enquanto que as coisas nossas
Tudo que fala da roça
Está jogado para as traças
Conserva ainda o estilo
De uma casa sem vidraça
Onde os passarinhos cantam
E a natureza me abraça
Café quente vem do fogo
Água fria da cabaça
Camisa branca de festa
Em ferro de brasa passa
É pura seda mineira
Bato viola a noite inteira
E a danada não amassa
No carreiro da pintada
O macaco não faz graça
Amanheço na estrada
Mas não durmo na quiçaça
Não paro em porta de venda
Por não gostar de arruaça
A cachaça é uma serpente
E quem bebe sempre fracassa
Depois que tudo acontece
Vem dizer que não merece
Põe a culpa na manguaça