Invernos
PARECE QUE O INVERNO BRABO ME PEGOU DESPREVENIDO
CRESCE O CALOR DA ÁGUA QUENTE NO MATE RECÉM CEVADO
EMPARCEIRA O PONCHO ABERTO AO REDOR DO FOGO QUE ARDE
E ESSE FRIO QUE VEM DO MIOLO, ME GELANDO SEM ALARDE
BAIXA A POEIRA DAS JORNADAS NO FUNDO DO CORREDOR
MUITAS TROPAS JÁ PASSARAM, OUTRAS NEM MESMO SE VÃO
A VIDA PASSA LIGEIRA, SEM PENA NOS ATROPELA
MEU GATEADO QUE CRUZAVA, HOJE ESPERA NA CANCELA
APERTA O RONCO DO MATE, SOFRENA UM TRAGO DA CANHA
ESQUENTA O FOGÃO CAMPEIRO, MAS É POUCO PRA FRIAGEM
ACENDO QUIETO O PALHEIRO, TRAGANDO FUMAÇA LARGA
ESPICHO A DOR DOS INVERNOS COM A QUE O CORAÇÃO AMARGA
SE A PAMPA VAI SE ALARGANDO, FUGINDO DO TEMPO FEIO
VAGA PERDIDA NA NOITE MINHA ESTRELA CAMPESINA
A TROTE BUSCO NO HOJE RAZÃO PRA TODA MINHA VIDA
CRESCE O VALOR DA QUERÊNCIA NESTAS LÉGUAS DISTORCIDAS
OS OLHOS PARAM NO FOGO E NA FUMAÇA QUE SOBE
BOMBEIAM MAIS O MEU SANGUE, O PULSAR DAS EMOÇÕES
ARREDIO SANGUE PAMPEANO, CRIOULO MAIS DO QUE O MATE
SONHANDO VIVO O RIO GRANDE, DEITADO EM RIBA DO CATRE
(Refrão)