Amargo

Jayme Caetano Braun

Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vasilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma China

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
N'algum rincão de tapera

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pelo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias

Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser
E um dia quando morrer
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça

Wissenswertes über das Lied Amargo von Jayme Caetano Braun

Wann wurde das Lied “Amargo” von Jayme Caetano Braun veröffentlicht?
Das Lied Amargo wurde im Jahr 1993, auf dem Album “Poemas Gaúchos” veröffentlicht.

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