Canção Da Carne Crua

Para quem não saiba, sou Glória
Sem estória nem hora marcada
No fundo da escada, no Astória
Num ermo, na berma da estrada

Para quem quiser
Eu faço de tudo com nada
De santa, de mãe depravada
Com gozo ou com dôr...

Ai...

Eu já fui menina, menina
Num tempo de avós e de fadas
O sol sobre a casa mais fina
Menina, família sagrada

E o que sobrou
A terna esperança de um parto
A sombra na porta do quarto
E flôr que secou...

Ai...

Detesto amor, detesto os seus enganos
Os seus gestos, os seus planos
As promessas, os suspiros
São delírios desumanos
Ou então foi sempre assim
Que essa gente fraca e crente
Foi contente na corrente e até ao fim

Não sou assim
Não creio, enfim em mais que o mutilar da velha dôr...

Detesto amor, detesto amor

Ai...

Para quem não saiba, eu gosto
Do mosto do rosto animal
Do cão que há no homem, bem-posto
Da sofreguidão mais carnal
E só quem souber as normas da vida ao contrário
Do luxo do lixo ordinário
É meu ditador

Ai...

Detesto amor, detesto os seus enganos
Os seus gestos, os seus planos
As promessas, os suspiros
São delírios desumanos
Ou então foi sempre assim
Que essa gente fraca e crente
Foi contente na corrente e até ao fim

Não sou assim
Não creio, enfim em mais que o mutilar da velha dôr... da velha dôr...

Detesto amor, detesto amor

Ai...

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