Samba Estranho

Kiko Dinucci

Sonhei que eu tava no futuro (sonhei, sonhei)
E resolvi pular um muro (sonhei, sonhei)
Mas muro já não existia

Até aí tava legal, criei um muro virtual
Mas o chip de coragem que eu tinha implantado
Não era compatível com o pulo instalado
Então, me teletransportei para o passado
E quis comer um frango assado

Aquele certamente não era o meu dia
Num passado tão remoto não tinha padaria
Pensei em tomar uma cerveja gelada
Mas a geladeira ainda não havia sido inventada

Vamo caçar? Disse o cara do lado
Deixa pra lá, onde é que é o supermercado?
Voltou com uma galinha viva
Pensei, meu Deus, que coisa primitiva!

Com um sorriso nos lábios, sem maldade, ele falou contente
Torce o pescoço até matar
E depois depene em água quente
Eu disse chega! Eu quero voltar pro presente

Acordei sobressaltado, tomei um banho
Sentei na cama pelado e compus um samba estranho
Olhei o relógio, era meio-dia, eu fui a pé até a padaria
Eu quero aquele bem passado e uma gelada
Eu vou comer lá na calçada

Sentei na guia e chorei (chorei, chorei)
Sentei na guia e chorei (chorei, chorei)

Lambi a lágrima salgada
Compreendi, felicidade é quase tudo ou quase nada

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