O Menino da Porteira
Toda vez que eu viajava
Pela estrada de Ouro Fino
De longe eu avistava
A figura de um menino
Que corria e abria a porteira
Depois vinha me pedindo
Toque o berrante seu moço
Que é pra mim ficar ouvindo
Quando a boiada passava
Que a poeira ia baixando
Eu jogava uma moeda
Ele saia pulando
Obrigado, boiadeiro
Que Deus vá lhe acompanhando!
Pra aquele sertão afora
Meu berrante ia tocando
Nos caminhos desta vida
Muito espinho encontrei
Mas nenhum calou mais fundo
Do que este que eu passei
Na minha viagem de volta
Qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada
E o menino eu não avistei
Apeei do meu cavalo
Num ranchinho beira chão
Vi uma mulher chorando
Quis saber qual a razão
Boiadeiro veio tarde
Veja a cruz no estradão!
Quem matou o meu filhinho
Foi um boi sem coração!
Lá pras bandas de Ouro Fino
Levando o gado selvagem
Quando eu passo na porteira
Até vejo sua imagem
O seu rangido tão triste
Mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro
Desejando me boa viagem
A cruzinha no estradão
Do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento
Que eu não esqueço jamais
Nem que o meu gado estoure
Que eu precise ir atrás
Neste pedaço de chão
Berrante eu te não toco mais