Idílio

Luiz Caldas, Narlan Matos

Pai, meu filho nasceu. Faz tanto tempo que lhe escrevi. Há tanto idílio entre ele você e eu! Ainda é difícil acreditar que você morreu... O dia acaba de nascer e me convence de novo com seu inquestionável argumento. Ontem, hoje, amanhã: a vida vive-se de momento em momento.

Pai, as praças de Havana são tão formosas que me fazem chorar. Tem flamboyants vermelhos acácias amarelas derramando suas cores belas nos cansados olhos dos homens. Tem bancos antigos ricamente decorados cheios de ternura e saudades.

Pai, meu filho tem o mar do caribe nos olhos e um sorriso de nuvem branca, branca como só as nuvens são. O cheiro de mar no ar me faz lembrar dos velhos tempos na casa de praia da infância onde passávamos verões felizes e eu achava que tu eras tão eterno quanto as ilusões.

Pai, todas as manhãs o mar caribenho me olha com seus olhos azuis e eu penso que você deve estar nos campos elíseos. Que saudades do teu sorriso! Como duramente descobri que tudo se vai. Mas meu filho me ensina de novo a existir.

Pai, as mulheres negras cubanas bailam como os anjos devem bailar no céu e seus leques charmosos seu colorido tropical fazem a vida tão mais linda. Nos olhos de meu filho há uma piscina clara de ternura onde mergulho quando estou triste. Ah, que triste que você não mais existe! Jamais terás meu filho em seus braços e ele jamais encontrará espaço em teu regaço! Mas nele eu te vejo: não como se ele fosse você mas como se eu fosse de novo teu filho!

Pai, nunca mais eu te abraçarei mas quando meu filho me abraça eu retorno aos teus raros abraços e a vida abre suas asas de cores sobre a eternidade. As manhãs de sábado são alegres e tristes: lembro da infância e vínhamos caminhando da feira livres como pássaros, e eu te imitava teus passos e te admirava como um colosso ao sol. E você me dava braçadas leves de flores pra carregar e eu chegava em casa feliz com a alminha cheirando a lírios e tangerina.

Querido pai, meu filho nasceu. Em Cuba o povo vive como quem desafia a morte. Em Cuba o povo sorri como quem luta. Vou ensinar-lhe a amar os bichos e os homens as ilhas e os pássaros vou ensinar-lhe a amar as mulheres e os barcos.


Pai, os sobrados e os casarões da velha Havana são antigos e belos poemas com sua arquitetura de romances e colores. Sacadas melancólicas suspiram por grandes amores! Sabe, ainda me dói tanto uma coisa... não foi descaso não foi erro: a vida quis que eu não fosse ao teu enterro. Nem que houvesse uma despedida derradeira. Uma vez no Japão sonhei que eu cavava tua cova com minhas próprias mãos e te enterrava sozinho no palco de um anfi-teatro grego.

Pai, meu filho nasceu. O único neto que você não conheceu. Contarei a ele as grandes passagens de sua vida suas estórias seus percalços sua inesquecível lida com os fracos e os oprimidos de sua felicidade, da grande fraternidade de sua mesa.

Pai, já faz tanto tempo que você me escreveu. Preciso lhe contar que meu filho nasceu. E foi como o sol na manhã caribenha nua: a vida é assim: eu te continuei, pai - meu filho me continua!

Wissenswertes über das Lied Idílio von Luiz Caldas

Wer hat das Lied “Idílio” von Luiz Caldas komponiert?
Das Lied “Idílio” von Luiz Caldas wurde von Luiz Caldas, Narlan Matos komponiert.

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