Espiral

Bruno Moreira Cesar

Espiral
Hoje ao amanhecer, ainda com pouca luz, pedi ao rapaz que entrega o jornal que não venha mais.
De que me vale o ontem se não meia dúzia de lições, 3 ou 4 tragédias e memórias que me custa olvidar?
Deixo no lar, trancado em gavetas, pilhas e pilhas de fracassos exaltados, como se sucessos fossem, mas sem final feliz.
Mero detalhe. Se interpretado fosse, tragédia seria. Onde o herói nunca sai vivo, mas é herói.
E o novo? Quando o novo vem? Vem sempre amanhã, e sempre é amanhã. Quero que o amanhã seja hoje então.
O amanhã é o ontem que talvez nem chegue, com uma cara limpinha e aura de mistério. Me chamem de volta o rapaz do jornal. A partir de hoje, quero jornais de amanhã.
Pouco importa o que trará desde que não sejam os mesmos lamentos e a loteria federal. Só não quero pensar nos cabelos que caem sobre essa folha, mas sim nas ideias que brotam nas cabeças por ai.
E não apagarei o passado, mas usarei de adubo. Caminhos abertos em mata fechada não devem ser encerrados, mas, de certo, não são os únicos caminhos.
Litros e litros de carros na pista enquanto eu ando a paulista, sem consolação, pensando se meu papel será sempre esse... Branco, pautado, linhas simétricas, paralelas, preso a este espiral...

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