Ladrão de Galinha

Nei Lopes

Foi num salão, ali no baixo Cinelândia
Perto da espaguetelândia, na Francisco Serrador
Que eu descobri que não tem bem que sempre dure, conhecendo a manicure
Ana Luzia Eleonor, com seu jeitinho encantador

Foi a melhor dentre as cumadres que eu já tive, mulher de um detetive
Ex-polícia especial

Era um vulcão e um pedação de mau caminho, tudo isso embrulhadinho
num rostinho angelical (se eu vacilasse na parada poderia me dar mal)

Seu lindo corpo parecia uma escultura: metro e meio de altura, 120 de quadris
Mais 100 de busto e 25 de cintura
Com uma pintinha escura um pouco abaixo do nariz
E esse nariz tão bonitinho, arrebitado, parecia modelado
pelas mãos de um Pitangui
E ainda por cima tinha covinha no queixo
e muitos outros apetrechos, de fazer queixo cair
(e eu passeava por ali)

Mas certa noite, na rua Riachuelo
Um tremendo pesadelo fez agente
despertar
Passos na escada, ela gritou: É o Nascimento, ele é um
cara violento, é melhor tu te arrancar

Pulei janela, estava já pulando o muro
quando, no meio do escuro
Ana Luzia Eleonor gritou pra rua:
"Peguem e lixem esse gatuno, ladrão
inoportuno, ventanista e arrombador!

Ai Nascimento, esse bandido me detesta, se eu não sou mulher honesta, ele ofendia o meu pudor"

E o Nascimento consolava: "Fica fria meu amor. É um larápio sem passado, é um pé inchado, é um amador, é um ladrãozinho de galinha. Vamos de volta pra caminha, tá kentinho o cobertor".

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