O Guasca E O Trem
"- Sai da linha que o trem te pega, companheiro!"
"- Mas já te conto essa história, parceiro!
Abre a gaita, gaiteiro!"
Lá bem distante
Esquecido da cidade
Um vivente na ansiedade
Resolveu laçar um trem
Pensou e disse
"- Lá na curva, o laço espicho
Se eu não laçar esse bicho
Quero ser bicho também!"
Armou o laço
E de vereda fez o pealo
Segurou firme o cavalo
Para o trem não escapar
Depois gritava,
Arrastado trilho afora:
"- Me salve Nossa Senhora,
Que o bicho quer me matar!"
E se não fosse
O maquinista precavido
O qüera tinha morrido
Sem dizer adeus ao mundo
Lá pra cidade
Foi ligeiro transportado
O corpo todo quebrado
Mais feio que moribundo
Passado o tempo
Recuperado do tombo
Com marcas feias no lombo
Que de lembrar dava medo
Entrou sorrindo
Na bodega do Bastião
Quando viu sobre o balcão
Um trenzinho de brinquedo...
Puxou do trinta
E logo fez a pontaria
Foi aquela correria
E a velharada a gritar
E o xiru velho
Ao trenzinho disse de vez:
"- O mal que o teu pai me fez
Hoje tu vai me pagar!"
Deu cinco tiros
E o trenzinho estraçalhou
Quando a patrulha chegou
Ele disse com bravura:
"- Esses bichinhos
Se mata enquanto é pequeno
Depois de grande é um veneno
Nem bagüal xucro segura!"