Desabafo Sertanejo
Sou tão resistente quanto a caatinga,
Sem água no tronco e sem folhas no pé,
Quando a estação da seca se vinga,
Perco até o sono mais não perco a fé.
Observo a barra do ano e procuro,
Um sinal de chuva trazido por ela,
Mas quando não vejo nada de futuro,
A minha esperança tem receio dela.
Aceitar esmola não é meu desejo,
É um desacato a minha coragem,
Já me orgulhei tanto de ser sertanejo,
Pois tenho tenho vergonha de ter esta imagem.
Feito o juazeiro sou esperançoso,
Que mesmo na seca sombreia os caminhos,
Como o chique-chique não sou espinhoso,
Mas na minha vida também tem espinhos.
Minha qualidade de vida não tem,
O minimo possivel de dignidade,
Quando me perguntam se está tudo bem,
Respondo que sim mas não é verdade.
É triste no campo ver os urubus,
Agorando a morte dos meus animais,
E eu não ter ninguém que mostre a jesus,
Esta umilhação que a seca me faz.
Sou profeta agrônomo sem nenhum estudo,
Aprendi na prática com a natureza,
De terra e de planta eu entendo tudo,
Não sei por que falta comida na mesa.
Sou acostumado dormir com a lua,
E acordar com os passaros fazendo cantiga,
Eu prefiro o sitio a morar na rua,
Enchendo a favela e secando a barriga.
(refrão 2x)
Vendo os vales secos e o nascente azul,
Que governo é esse do país e celeste,
Esses presidentes do céu e do sul,
Não são solidários na dor do nordeste.