Milonga Contra Um Mundo Vazio

Pedro Munhoz

Se o que me resta é um nada
Meu canto vem nesse vazio
Rompendo as cadenas do medo
E o pavor de mil noites a fio

Se o que me resta é um sonho
Virado todo do avesso
Percorro as distâncias de mim
Recorro aos meus tantos tropeços

Andei, andei pelo fim do mundo
Não me iludo, não me iludo
Livre é estar preso a ninguém
Quando ninguém se tem
Preso se quer estar

Andei, andei pelos quatro cantos
Não me engano, não me engano
Resisto a tudo enfim, dia sim
Outro sim, contrariando este não
Que a tudo invadiu
Milonga contra um mundo vazio

Se a angustia das horas
Apaga o colorido dos dias
Rebelde eu me insurjo a rotina
E insisto em continuar vivo

Se o meu querer é contrário
A ordem estabelecida
Prefiro os abismos do nunca
Aos céus da hipocrisia

Se sou uma voz no deserto
De certo será este o destino
Pisar em areias incertas
Andar pelos meus descaminhos

Sei que nada é em vão
A estrada é de todos nós
Ninguém será o algoz
Da sua própria missão

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