O borracho
"Reparem naquele homem
Maltrapilho e pé no chão,
Ali de chapéu na mão,
Pedindo esmola na praça.
Reparem bem na desgraça,
Da estampa rude do pobre
Borracho, tenteando uns cobres
Pra encharcar de cachaça"
Aquele homem, agora
Meio "tantã" da cabeça
Por incrível que pareça
Usou anel de doutor
Já teve o céu do condor,
Depois despencou do cacho,
Rolando perau abaixo
No poço fundo da dor
"E acorrentado à cachaça
Está no fundo do poço
Entalado até o pescoço
Sem uma réstia de luz
Pois "faz goela de avestruz"
O borracho, quando empina
O frasco da cangebrina
Que a mão trêmula conduz"
Quando se abre a garrafa,
A "Mala Suerte" se solta,
O mundo gira na volta
Em "derredor" do gargalo,
O homem cai do cavalo
E, por ginete que seja
Troca de ponta e rasteja,
Quebrando a cara no pealo.
"Começam na encruzilhada
As quatro estradas do "ermão"
Uma vai para a prisão;
Outra cheia de mistérios,
Para o hospício dos loucos
E a quarta, mais curta um pouco,
Direto pro cemitério"
Mas em qualquer dos caminhos
Vai extraviando na trilha
Os amigos, a família
E tudo o mais que tiver.
E acredite, quem quiser,
Até a honra de macho
Ele vomita borracho
Nalgum boteco qualquer.
"Por isso reparem bem
Naquele homem na praça,
Na escravidão da cachaça,
Maltrapilho e pé no chão,
E peçam em oração
Ao padroeiro Santo Onofre,
Pelo borracho que sofre
Ali de chapéu na mão."