Noite, vem
[Reflect]
Sente a magia de cada verso num ritmo que te envolve
A luz numa rua acesa num brilho que se dissolve
Versos numa carta intemporal que expirou
E o músico adormecido que fora de horas despertou
A liberdade que se ganha quando meio mundo adormece
O espaço que se repete, mas que a gente ignora e esquece
A chave da evolução p'ra quem rompeu com a rotina
A liberdade que marca a diferença, mas que ninguém adivinha
O factor que te intriga e ilumina metade do rosto
O peso que desequilibra e que te faz ter outro gosto
Silêncio que fala e guarda o ranger de uma porta
O ponto mais alto da vida quando a tratam por morta
Escuro que rompe na luz como a traição no amor
Acção tomada sem nexo como a paixão sem dor
Ardor sem ferida aos olhos da distracção
Caminho não iluminado, mas que todos seguirão
Metáfora sem ironia, a outra parte deste dia
O calor ou o frio, as maiores horas de nostalgia
O clima mais doce que revela histórias apagadas
A areia sem o mar, uma praia sem pegadas
O retrato sem pessoas que maior valor conquista
A dona das insónias que me tornaram artista
Cinzas na lareira enquanto um momento é recordado
Aquela que vai e vem e o presente vira passado
A caixa misteriosa que nem todos conseguem abrir
A que vem depois do pôr-do-sol na sua vez de sorrir
As gotas numa planta resultam do seu efeito
E é graças a ela que este tema é perfeito
Noite de loucura, agulha de acupunctura
Veneno tortura, rua da amargura
No silêncio és pura, não finges como virgens
E eu no teu imenso tenho vertigens
Deixaste cicatrizes, feridas profundas
Senti-te na pele quando fomos às catacumbas
Seduzido no teu charme enfraqueci como carne
Não és de porcelana, és dura como mármore
Bêbedo no teu escuro, viciado no teu perfume
Meti a mão no fogo e queimei-me no lume
Foste razão de muitas lágrimas
Caneta de páginas onde criámos poesia
Tu és o reverso do dia, ausência da luz
A tua magia já não me seduz
Foste dura, ensinaste-me a doer
Agora já sei exactamente o que não fazer