Sangue de Barro

É barro sim, não é brincadeira
É jeito, força e vida
Raciocínio na moleira


Olhos vermelhos correm até o horizonte
Há quanto tempo que não chove?
(Eu sei lá, já tem um monte!)
A terra já tá molhada, sola do pé descascada
E isso faz tua cabeça, mano véi, ficar virada


E essa dor é bem menor a que se sente
Se a cabeça corre o chão feito rastejo de serpente
Se tu te entrega é que teu sangue não é quente
O jeito é viver lutando, senão morre essa gente


É barro sim, não é covardia
Tenha cabelo na venta
E se garanta a cada dia


Sou um boneco pensando e cantando
De Caruaru pro mundo em um mundo acreditando
Sou tão forte quanto a arte do mestre Vitalino
Que lá no Alto do Moura ainda brincou como menino


Eu já peguei chuva de vento, foi num lombo dum jumento
Já peguei insolação, nas caatingas do sertão
Sou nordestino cabra macho, num abro nem pra boi de carro
Porque em minhas veias corre o mais quente Sangue de Barro


É quente, corrente e vivente
Explode e incendeia igual cuspida de vulcão
Isso é Sangue de Barro Caruaruense
Que corre nas veias e irriga nosso coração

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