Pó
Do pó viemos todos,
Pro pó vamos voltar,
Quer queiramos, não queiramos,
Vamos todos nos misturar.
As cores, credos, cruzes,
Os sonhos, ossos, sorte,
Debaixo da terra fria
Que aguarda uma nova morte.
Ali, inertes, iguais,
Se cruzam os dedos num adeus;
Ali, de golpes fatais,
Vão até os que acham ser Deus.
Ninguém leva poder nem orgulho,
Apodrecem sem brio, barulho,
Amortecem seus feitos, conquistas
E se perdem num sepulcro escuro.
É só pó misturando os antigos
Aos incautos, aos maiores inimigos;
Misturando o pobre e o rico,
Enxertando o feio no bonito.
O que resta é o que se fez em vida,
O que importa é alguma saudade deixar,
Pois até a morte aduba o ódio
De quem se fez sofrer e chorar.
Sem contar que depois de encerrados
E cerrados seus olhos e lida,
Sua alma já segue o destino
De uma escolha que só se fez em vida.