Vigia

[Intro]
Eu devia dizer aqui qualquer coisa
Mas...Qualquer coisa é nada
E eu não sei, não

[Verso 1]
(Eu)
Eu não sei sempre
Eu não sei tudo
Por vezes falo
Falei com surdos
Então não disse
Não disse nada
Mas nunca estive ou estou calada
O que é que eu disse?
Se ouviste, fala
Se é triste, mata
Se é isto casa ou asas
Bebe castas dança até que caias gasta
E te levantes apta
Capta: Se ouvisse maltas
Estava parada
Porque isto “nunca foi para gajas”
Falsas conversas baratas
Para que é que achas que aqui estou?
Tu viajas neste som
O meu pai nunca pensou
Criar menos que o que sou
Já nasci com este dom
Nem sempre tive este tom
Não sou menos do que tu
Trago tanto ou mais assunto
Spock aumenta-me o volume!
Quero gritar isto tudo
Deixar surdo este público
Que não ouve o conteúdo
Num período
Que é tão curto
Eu tento tudo
Nisto passa outro minuto
E só te escuto
No meio do meu barulho
O meu mergulho
O teu orgulho
O nosso nada
O nosso tudo
O nosso mundo
Um novo rumo
Uma massada
Eu estar cansada
A ir para casa
A cantar-bruto o que se passa
(Nem te passa
Onde é que estava!)
Onde estavas
Antes de vires para ver rapaziada?
Não vim certa
Nem errada
Não vim rosa
Ou azulada
Prosa não vem pintada
Quem define?
Quem separa?
O que te trava?
Vesti calças, despi calças, vesti saias — não é disso que se trata
Não contavas que eu viesse a esta praça e falasse estas palavras?
Poucas falas, tristes caras muito fartas
(Não te calas...)
Não me cales
A não ser que esteja errada!
Olha bem para esta cara
Não te convidou para nada
Se toquei na tua alma
É de Arte que se trata
É diante que te afastas
Há bordalos em sucatas
Borboletas foram latas
Não reparas no que sentes?
Eu estou entre estas paredes sem conteúdo
E não sei sempre nem sei tudo
E por vezes falo; falei com surdos
Porque eu não disse ou disse nada

Onde é que estavas?
Onde é que estava?
Do que é que se trata?
(Do que?)
Mas isso mata
(o que?)
Mas isso mata-me
(porquê?)
Mas isso mata-te
(o que?)
Mas isso mata?
(Mas isso mata)