Cidade Universitária
Dentro dessas salas de aula
Criam-se insígnias, criam-se máquinas
Criam-se corpos, criam-se almas
Cria-se um ser
Por entre estes laboratórios
Criam-se ratos de escritório
Criam-se vidas, criam-se velórios
Cria-se Deus
Cria-se tudo que há mais divino
Criam-se fogos de artíficios
Criam-se símbolos, criam-se ídolos
Cria-se a cruz
Criam-se músicas, criam-se ritmos
Criam-se meios, criam-se inícios
Criam-se vícios, criam-se homens
E homens não se criam só de livros,
Bem mais que isso,
Nascem de sonhos
Entre as folhas destes cadernos
Criam-se poemas dos mais modernos
Uns abstratos, outros concretos
Criam-se leis
Por entre estes corredores
Criam-se ódios, criam-se amores
Criam-se doutores, Criam-se senhores
Criam-se reis
Cria-se tudo que há mais bonito
Cria-se ouro, cria-se lixo
Criam-se Hittlers, criam-se Judas
Criam-se Jesus
Criam-se ofícios e edifícios
Criam-se pobres, criam-se ricos
Criam-se mitos, criam-se homens
E homens não se criam só de livros,
Bem mais que isso,
Nascem de sonhos
Criam-se loucos, criam-se sãos
Criam-se fábricas de ilusões
Criam-se mistícos, criam-se meus filhos,
Criam-se os seus
Criam-se tudo que há mais moderno
Criam-se casas, criam-se prédios
Cria-se você, cria-se nós,
Cria-se eu
Dentre povos mais primitivos
Fora encontrado na praia um livro
Um objeto muito bonito
Para se ver
Olhares vagos, desiludidos
Pois para eles não faz sentido
Pois sem a idéia, sem o raciocínio
Não há o porque
Era uma vez uma cidade
Que os habitantes não tinham idade
Que todos tinham necessidade
De serem luz
Que ao invés de pratos, comiam livros
Ao invés de livros, liam sorrisos
E seus sorrisos continham sonhos
E sonhos não se criam só nos livros
Bem mais que isso
Nascem dos Homens
E homens não se criam só de livros
Não, nada disso
Nascem de sonhos