O Fantasma

Ele não sabe porque se tornou eterno
Vive numa casa mas mora num deserto
Atravessa paredes dorme suspenso
É translúcido é névoa é fumo
O seu carrasco não lhe contou tudo
Quando o matou não o deixou sem nada
Ofereceu-lhe o livro de uma alma penada
Há diamante na lamina da faca, ferro na ponta da estaca
Prata no corpo da bala, mas nada mata este fantasma
Há diamante na lamina da faca, ferro na ponta da estaca
Prata no corpo da bala, mas nada mata este fantasma
O fantasma queria morrer, mas já morreu noutra vida
Ninguém ouvia o fantasma suicida
O fantasma queria matar mas não conseguia
Ele chorava e a casa toda ria
O fantasma queria morrer, mas já morreu noutra vida
Ninguém ouvia o fantasma suicida
O fantasma queria matar mas não conseguia
Ele chorava e a casa toda ria
Quando o fantasma martela o piano
Os gatos uivam no sentados no telhado
Os lobos riem e gozam o coitado
E o fantasma chora porque não é humano
Quando o fantasma toca as teclas do cravo
Os cães jogam aos dados e acendem cigarros
Os ratos embriagados troçam do coitado
E o fantasma sofre porque não é humano
As mãos não tem pele, a carne não tem ossos
O corpo não tem órgãos, as palavras são sopros
Quando ele grita os berros saem ocos
Quando ele chora os olhos ficam secos
O peito não é denso, o coração não tem peso
O álcool não o preenche ele não esquece
Quem o matou tem sorte envelhece
O fantasma queria morrer, mas já morreu noutra vida
Ninguém ouvia o fantasma suicida
O fantasma queria matar mas não conseguia
Ele chorava e a casa toda ria
O fantasma queria morrer, mas já morreu noutra vida
Ninguém ouvia o fantasma suicida
O fantasma queria matar mas não conseguia
Ele chorava e a casa toda ria

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