Minha História
E falar de mim, só de mim
E falar de mim, só de mim
Talvez a minha história se encaixa com a sua
Não fui vítima, fui a causa
Dei tchau pra minha mãe, abracei a rua
Preferia a esquina e o crime
Minha coroa era um saco
Careta, dizia que esse tipo de vida leva nós para o buraco
Meu pai foi embora quando eu tinha um ano de idade
Simples assim
Matei no osso a responsabilidade de ser o homem da casa
Sobrou pra mim
Até os quatorze tava legal, a ordem bacana
Com os quinze, tava mil grau, pela primeira vez fui em cana
Dei ouvido demais para o meu eu que é mal
Natureza humana
Aprendi que é melhor dizer não, irmão
Quando a rua te chama
Descobri como dói o olhar de uma mãe para um menor algemado
Pra ela somos os seus meninos, certo pelo certo, mesmo estando errado
Se eu tivesse o amor de verdade, como disse que tinha
Não tinha feito metade das coisas que fiz
Fiz chorar minha velinha
Passou o tempo
Eu com dezenove, Santana socado e o vidro fumê
A polícia parou, eu cortando umas pedras
De novo lá vai eu, vou pra DP
E falar de mim, só mim
E falar de mim, só de mim
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
E falar de mim, só de mim
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
Não tava nem aí pra ninguém
Metia o louco e fazia sofrer
Pique revolucionário, que não revolucionou o jeito de ser
Com vinte e dois, a minha filha nasceu, hora de mudar
Com vinte e quatro, fui preso de novo
A polícia invadiu o barraco troca no sofá
Colheita cruel, escutei
Quem não devia escutar, quem perdoa é Deus
Avida não vai perdoar, quem não sabe plantar
Sabadão a minha esposa enfrentando uma fila gigante
Quinhentos caras esperando a visita
Lá fora as famílias, o processo constrange
Fica pelada agacha, agacha, agacha, agacha
Mostra a sola do pé que a língua
Eu cheio de marra, enquanto quem passa vergonha lá fora é a minha família
Quando sai, não é com orgulho que falo, mas sai pior
Até os vinte e oito de idade, metendo marcha só vários B.O
E pra molecada essa é pra falar que eu não avisei que pra entrar, só não entra
Emocionado, porque uma hora a cobrança vem
Foi na escravidão que eu clamei e o senhor me ouviu
Dessa vez a minha carne foi invadida, mas dessa vez não foi a polícia civil que invadiu
Foi o pai que eu não tive dizendo “eu dou vida, cê quer vida?”
Me abraça, como nunca abraçou ninguém
E dá tchau pra essa vida bandida
Começo uma vida nova
Quero fazer de você uma voz, vai gritar onde poucos querem gritar
Tem um Deus que não esquece de nós
Tem um pouquinho de mim, não sei se serviu pra você
Mas eu desabafei, serviu pra falar o quanto eu magoei
Nem sabia o que era amar
Amor que faz a gente sofrer
E falar de mim, só mim
E falar de mim, só de mim
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
E falar de mim, só de mim
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você
Quem sabe eu falo de você