Casca

Ricardo Frutuoso / Tiago Bettencourt

Continuamos a tratar da casca
Continuamos a moldar a casca
Continuamos a remar de costas
E a provar águas quase mortas
A viver ruas já pisadas
A levar pedras já usadas
Num saco meio roto
Num saco meio morto

Tentamos não manchar a casca
P'ra fazer brilhar a casca
Tentamos não parar de costas
Tentamos não falhar respostas
Que nunca nos vejam de fora!!
É para nós que o mundo adora
Passos de dança no chão
É para nós que os olhos olham.

Casca é o tempo que dói,
a janela fechada que estilhaça quando se olha p'ra traz...
Vento é o que bate na cara
É só largar a casca,
Ninguém olha pr'a trás.

Fingimos não pensar na casca
Tentamos perdoar a casca
Separamos bem e mal
Quando se inspira o real
E se queima o que é vida
Mais uma hora despida
Onde águas não escorrem
E mágoas não morrem

Tentamos disfarçar demónios
Por medo desviamos olhos
Por fuga apagamos fogos
Por escudos renascemos novos
Sem rasto esquecemos lábios
Altivos, rastejamos, sábios
Cada vez mais fundo
No buraco do mundo

Com força agarra-se a casca
Que é só o que nos resta
Que o mastro derreteu
Mais, tudo encolheu
Quisemos testar barreiras
E construímos teias
Difíceis de romper
Aqui ficamos presos na...

Casca é tempo que dói
É janela fechada que estilhaça
quando se olha para trás..

Vento é o que bate na cara
É só largar a casca!!
Ninguém olha para trás!

Vento é o que bate na cara
É só largar a casca!!
Não se olha para trás!

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