Lourdes
Mais uma madrugada, mais um verso na caneta
A passar para um caderno o que a minha alma sustenta
Tento-me afastar do que a mente inventa
Sinto tanta pressão, será que a cabeça aguenta?
Tanto tempo passado, dias mal contados
Noites mal dormidas, mesmo assim o corpo tenta
Erguer-se de novo num mundo tão malvado
Em que todos são deixados a morrer ao relento
A vida um dia acaba e tu não tens o que fazer
A olhar para cima sem nada para dizer
A partir desse momento já não tens razão para ser
A ver passar o tempo e sem querer viver
A partir daquele dia em que sentes a tal dor
De ver a puta da vida a roubar o teu amor
Foi desde aquela quinta que eu senti o sabor
Da morte a entrar pelo teu corpo
Beijar-te a testa fria enquanto me escorria em lágrimas
Hoje eu penso, o que tinha eram dádivas
Agora vais vivendo no meu traço, e 'tás
Gravada na minha mente, vá para onde eu vá
Só quero que te orgulhes do que eu faço
Perdi o rumo sem nunca falhar o passo
Lembro-me de tudo, cada beijo e cada abraço
Esta noite cheio de fumo e um copo com bagaço
E hoje é a tristeza que me assombra
Eu sinto que sem ti vivo na penumbra
Passo no corredor e vejo a tua sombra
Aí sei que há alguém que me ajuda
Agora a minha vida muda
Enquanto olho p'ra ti agarrado ao terço
Hoje só há uma coisa que eu peço
Para que voltes e isso nunca teve um preço, vó!
Tenho o meu sangue no papel contido
Desde aquela noite em que o TróPico nasceu porque o Miguel foi contigo
E hoje eu já não sei se vivo
Estou-me a sentir tão perdido
Rodeado, mas sempre tão sozinho
Juro, tou a seguir o meu caminho
Linha reta a cambalear no limbo
Depois do chão encontro-te no cimo
Estou-me a mover sem olhar ao ódio
Vou ter ao sky, eu não quero o pódio
Não me incomoda esse olho gordo
Meu silêncio torna-se irónico
Tão barulhento que ensurdece
Sei que assim ouves a minha prece
Mas sei que se não me apresso
Acabo ao teu lado a ouvir uma reza