Rio Curioso
Vimos por este meio pedir
A todos vós um segundo
Que este não seja o devir
Que se anuncia ao mundo
Ah, somos mais, somos mais que o parafuso
É decerto um exagero
Já que pensar nestes dias é um abuso
E que se paga em desespero
Já lá vai a guilhotina
E nem é caso para tanto
Agora a dor corta mais fino
E depois, poupa-se um santo
Vimos sem freios
Vimos agora dizer que está podre o reinado
Que por mais voltas e revoltas que se der
Não passamos do teu gado
Ah, quando nos roubam o sorriso
Ah, quando nos enchem os ouvidos
Ah, quando nos mostram o paraíso
Esfomeados
Cobiçam-nos logo os sentidos
Chegai ó deuses cá da terra
Vinde ao menos saber
Se os que vivem lá na serra
Estão prontos a morrer
Haja uma luz, uma estrela que nos aponte
Quando perdidos no horizonte
Esperando que depois de morta a manhã fria
Depois da noite chegue o dia
Como um rio curioso
Fervilhando ao luar
Procura o mar que é sempre um leito carinhoso
Onde possa descansar