A Carta

Vicente Celestino

Numa carta que a minha mulher recebeu
E que leu toda inteira pra mim
O autor da missiva, tombar sem temor
Com rancor acusava-me assim

Eu já vi teu marido tombar
Debruçar, num boteco de tanto beber
Numa farra com outra beldade
E uma verdade, eu vou te dizer
Que o que digo não é caso novo
Na boca do povo, tornou-se rifão
De que os dois nunca foram felizes
Que houve deslizes, e juntos não são
Eu não sei se é verdade, acredite
Mas dou meu palpite, e vou te acusar
Por que é que escolheste no mundo
A um vagabundo, que vive a cantar?

Ao findar a leitura da carta, exclamei
Matarei esse novo Mefisto
Mas quem amo que é toda meiguice
Me disse muito mais do que tu, sofreu Cristo
Que me importa que falem de ti
E ali, numa grande explosão afirmou
Na alegria, ou na dor meu amigo
Eu vivo contigo, e a carta rasgou!

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