O Desejo (Ao Vivo no Sonastério) [Ao Vivo]
(O tempo é tão tão cruel)
(O tempo é tão tão cruel)
(O tempo é tão tão cruel)
O tempo é cruel, mas é tudo que tem
Tudo mais é sobra, lixo, lata
Prata barata que tenho
Sim, o tempo passa, a vida segue
Não estanca o corte
Hoje eu não temo a morte
Azar ou sorte?
Não há luz que me cegue
Nem há luz que eu siga
Estou só à beira do caminho
A solidão é minha amiga
Lá fora a luz de outono invade a cidade
Lá fora é onde a vida pulsa e curta e bela
Comédia grega, tragédia russa
Eu estou lá e ouço o alarido surdo
O estampido seco das ruas
Esquinas, vielas
Enquanto você, guardado por Deus
Conta seus metais por detrás da janela, é
Você faz planos, planeja
Deseja, o desejo sangra
Quer uma casa em Angra
Quer carro, iPad, família
Filhos na universidade (filhos na universidade)
Você quer rezar, mas para quem?
Se os deuses estão mortos
Não há mais divindade, ritos
Ninguém pra ouvir você no confessionário
Na noite escura, gelada, vazia
Contando os seus pecados sem perdão
Sua omissão por não dar a mão
Ao irmão que precisa de cigarros
Comida, água, consolo, camisa
Tanta pobreza humilhada
Tanto canalha no topo
Você é feliz, ma non troppo
Porque nenhum bem lhe basta
E a falta, a falta, a falta
A falta, sua vida devasta
Você faz planos, planeja
Deseja, o desejo sangra
Quer uma casa em Angra
Quer carro, iPad, família
Filhos na universidade (filhos na universidade)
Você se olha no espelho
E vê que tudo é mentira
A vida é uma mentira
Felicidade, mentira
O amor, mentira covarde
Olha pro relógio
E vê o quanto é tarde
Tarde demais pra ser feliz
O seu corpo clama por calma
Mas em sua alma
Quanta ferida sem cicatriz
Quem tudo quer nada tem
Dizia o cego na porta da igreja
Se a paixão morreu
Diga 'amém, assim seja'
Pra todo mal vem o bem
E tudo mais é esta dura
Dura, dura peleja
Dura, dura peleja
Esta dura, dura, dura peleja
Você faz planos, planeja
Deseja, o desejo sangra
Quer uma casa em Angra
Quer carro, iPad, família
Filhos na universidade
Você faz planos, planeja
Deseja, o desejo manda
Quer ter guitarra e banda
Ir à Angra em jantares
Adular endinheirados (adular endinheirados)
No silêncio da noite sem sono
Você se sente como um cão sem dono
E se pergunta o que restou do amor
Do sonho, pura ambição
Só suor, lágrimas, sangue e perda, pó e solidão
E pra dor que rói a carne tesa sob a pele fina
Não há um só remédio em toda medicina