O esteio e o estorvo
Eu voltei morar no sítio veja bem como é que é
Estou vivendo distante dos filhos e da mulher
Às vezes durmo na tulha do jeitinho que Deus quer
Durmo em cima do algodão que colhi com muita fé...
E o meu grande travesseiro que veio lá do terreiro,
É um saco de café.
Voltar para a minha terra sempre foi minha vontade
A decisão lá em casa me machucou de verdade
Minha esposa e meus filhos ficaram lá na cidade
Ninguém me acompanhou pra minha infelicidade...
Mas eu não estou sozinho hoje aqui no meu cantinho,
Mora eu e a saudade.
A família não deu valor pra quem viveu trabalhando
Se eles têm hoje o que tem sou eu que estou deixando
Nessa terra abençoada estou colhendo e plantando
Aqui tenho quase tudo só a família está faltando...
Estou vivendo na fartura, mas engolindo amargura,
Desprezo está me matando.
Fiquei velho trabalhando posso dizer sem receio
E criei todos os filhos até o caçula que veio
Sofri como animal lá embaixo do arreio
A ingratidão da família me retalhou pelo meio...
Vivo longe do meu povo pra eles hoje é um estorvo,
Quem um dia foi esteio.