Quadragésima de Mozart
Para ti eu sou só um palhaço
Nada além de um bufão tão normal
Mas a minha alma é todo um pedaço
Uma dor sem começo ou final
Pode ninguém me entender
Mas mostrar eu não vou
Porque ninguém vai querer ouvir o que eu tenho a dizer
Não, não sei se gosto de ser assim
Viver com quem só olha pra mim
Mas no lugar de um rosto
Só vê sinfonias, nada mais enfim
Eu sempre entendi o isolamento
As lúgubres tardes de tormento
Mas o mundo que me cerca
Vive a utopia que a alegria é certa
Ah, mas, ah, não vás embora
Devo ser entediante
Mas quando souberes como sou, estarás radiante
Pois então tu saberás que a vida é muito mais
Que duas notas
Eu toco o cravo pra te alegrar
Mas por suas teclas eu vou me matar
Limpo os meus ouvidos com minha melodia simples
Com os meus dedos feridos
Tu sequer notaste que eu chorei
Por lágrimas eu me expressei
Mas o mundo aqui não estava
Se divertia enquanto pelo mundo eu me matava
Ah, mas, ah, não vás embora
Eu me sinto tão sozinho
Mas eu preciso de muito mais que um simples carinho
Quando me entenderes, saberás que eu sou capaz
De chorar notas
Mas eu já desisti de me iludir
Raras são pessoas como eu
Viverei para um dia eu sorrir
Na morte libertar-me do breu
Que cobre seco esse mundo
E o cobre mesmo imundo
Nem se interessou limpá-lo de fúteis ações vãs