História da Marianita

Sebastião Antunes

Desdenha, vem prenhe
Pragueja, deseja e ralha mas quando trabalha não estranha

Lá vem a Marianita, foi posta com as malas à porta
O amo mandou-a embora mas ela não chora, cá pouco se importa
Andava fisgado nela, foi ter-lhe ao quarto à tardinha
Mariana por mais que tu faças, tu de hoje não passas, és minha
Não me dás cabo da vida que essa não te a dou por nada
Mil vezes me dei perdida mas outras mil eu dei-me achada

Que tens tu, ó Mariana, que não sossegas um dia
Não foi proveito nem fama, já chora já mama,
cá tudo se cria Vai por serras e veredas a ver onde é que há jornada
Que importa que o povo diga se a vida castiga por tudo e por nada
O amo quere-a de volta mas ela não verga a haste
Hei-de criá-lo sozinha, a cria é só minha, tu tarde piaste

A noite é que guarda o dia, o poente é que o embala
Para a vida não ser bravia tem de a gente amansá-la
A mão que nos guarda a vida é a mão que nos dá manha
Só leva a vida vencida quem a prova e não estranha

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