Romance da Costureira
Largas tardes preguiçosas descansavam na soleira
Fazendo sombras dançarem com abraços de paineiras
As mãos ágeis cuidadosas na costura e no feitio
Pelo entrelaçar das linhas inspiravam assobios
De alegres aves compondo musicais pra costureira
Senhora da casa velha do tempo farto da estância
Abrigou tantos invernos de muita gente na infância
Foi passatempo caseiro entre as horas de acalanto
Nos acolchoados de catre, bicharás de velo branco...
E no pano das bombachas pelegueadas de distância
Viu que o tempo emala ponchos no chamar do corredor
Despediu-se do paysano que lhe entregou uma flor
Nas promessas da porteira, retorno breve, encomendas...
- Aquela fazenda boa que se encontra lá na venda!
E uma saudade apertada quando se deixa um amor
Cuidou luas da janela que pinta seu quadro ao fundo
Preparando uma surpresa, chegou há contar segundos...
E nas tardes da soleira quando o sol cai sobre as casas
O vento balança a sombra, canta um pouco e cria asas...
Mandando recados dela – onde ele esteja no mundo...
Nas miradas da porteira com pôr-de-sóis coloreando
Onde debruçou anseios pelo regresso esperando
Com uma bombacha nova caprichada do seu gosto
Criou visagens ao longe, sorrisos largos no rosto...
E aquela velha saudade de quem não está chegando
Os dias passam ao tranco, luas que custam mudar...
Mas o coração conhece a hora certa de voltar
Ter aquele forte abraço na chegada da porteira
Pois ficaram olhos rasos – romance da costureira -
E uma bombacha vazia pendurada sem andar.